INDICAÇÃO DE LEITURA.
MARIANA PAIVA
Sem bordados nem laços de fita, as cangaceiras
costuraram suas histórias, letra a letra, com tecidos mais resistentes
que os dos vestidos das outras moças da cidade. Com Anésia Cauaçu não
foi diferente: ela, que foi a primeira mulher a entrar para o cangaço no
Brasil, carregou consigo também o mérito de ser autoridade e líder de
um bando de cangaceiros num tempo em que a mulher ainda caminhava bem
longe de emancipação. Amanhã, às 18 horas, o professor e escritor
Domingos Ailton lança, na Biblioteca Pública, o romance Anésia Cauaçu,
que mistura ficção e História para contar a saga da cangaceira, uma das
mais comentadas na região de Jequié, onde viveu. Foi ainda na infância,
aliás, que o autor do livro, de 41 anos, ouviu falar em Anésia pela
primeira vez. "Minha mãe contava a história dos Cauaçus e minha avó
colocava os filhos para dentro do mato para protegê-los quando os
cangaceiros e as volantes apareciam", revela. Para Ailton, entretanto,
foi um livro escrito pelo historiador Émerson Pinto de Araújo que
despertou a vontade de escrever sobre a personagem. "Ele lançou o
desafio de que a história dela precisava ser contada, e então decidi
contribuir como ficcionista", afirma.
Rico em detalhes históricos, o romance apresenta
alguns personagens ficcionais, mas, na maioria das vezes, procura se
ater ao que aconteceu. Anésia, por exemplo, é retratada de acordo com
muitas das descrições que recebeu na época. "Ela pedia cachaça nas
vendas, jogava capoeira. Foi a primeira mulher do cangaço a usar calças
compridas e montar cavalo de frente. Ela se destacava nos combates
porque atirava melhor que os homens". Um dos pontos altos da história é
contar que Anésia tinha o poder de se transformar em rochas ou em
árvores depois de rezar. Assim, misturando o sobrenatural à história,
Ailton enriquece seu relato. "Anésia tinha que ser mesmo muito retada
para, na sociedade paternalista de Jequié, liderar os cangaceiros", diz o
autor.
Publicado pelo jornal A Tarde - em 08 de março, 2012.