Pesquisar este blog

sábado, 30 de junho de 2012

INDICAÇÃO DE LEITURA.


MARIANA PAIVA

Sem bordados nem laços de fita, as cangaceiras costuraram suas histórias, letra a letra, com tecidos mais resistentes que os dos vestidos das outras moças da cidade. Com Anésia Cauaçu não foi diferente: ela, que foi a primeira mulher a entrar para o cangaço no Brasil, carregou consigo também o mérito de ser autoridade e líder de um bando de cangaceiros num tempo em que a mulher ainda caminhava bem longe de emancipação. Amanhã, às 18 horas, o professor e escritor Domingos Ailton lança, na Biblioteca Pública, o romance Anésia Cauaçu, que mistura ficção e História para contar a saga da cangaceira, uma das mais comentadas na região de Jequié, onde viveu. Foi ainda na infância, aliás, que o autor do livro, de 41 anos, ouviu falar em Anésia pela primeira vez. "Minha mãe contava a história dos Cauaçus e minha avó colocava os filhos para dentro do mato para protegê-los quando os cangaceiros e as volantes apareciam", revela. Para Ailton, entretanto, foi um livro escrito pelo historiador Émerson Pinto de Araújo que despertou a vontade de escrever sobre a personagem. "Ele lançou o desafio de que a história dela precisava ser contada, e então decidi contribuir como ficcionista", afirma.
Rico em detalhes históricos, o romance apresenta alguns personagens ficcionais, mas, na maioria das vezes, procura se ater ao que aconteceu. Anésia, por exemplo, é retratada de acordo com muitas das descrições que recebeu na época. "Ela pedia cachaça nas vendas, jogava capoeira. Foi a primeira mulher do cangaço a usar calças compridas e montar cavalo de frente. Ela se destacava nos combates porque atirava melhor que os homens". Um dos pontos altos da história é contar que Anésia tinha o poder de se transformar em rochas ou em árvores depois de rezar. Assim, misturando o sobrenatural à história, Ailton enriquece seu relato. "Anésia tinha que ser mesmo muito retada para, na sociedade paternalista de Jequié, liderar os cangaceiros", diz o autor.


Publicado pelo jornal A Tarde - em 08 de março, 2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário